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Se você é um homem trans e chegou até aqui no meu portal de reprodução humana, já sabe como pode ser desafiador encontrar informações de saúde realmente direcionadas para você.

Além disso, você talvez tenha enfrentado desconfortos ao realizar exames preventivos como o Papanicolau ou um ultrassom vaginal — procedimentos que, para muitos, são simples, mas que podem ser particularmente difíceis ou desconfortáveis para você. Eu entendo como esses momentos podem ser delicados.

Quando falamos sobre tratamentos como o congelamento de óvulos ou a fertilização in vitro (FIV), é importante reconhecer que cada pessoa LGBTQIAPN+ tem vivências e necessidades únicas. Não há uma abordagem única que atenda a todos.

Meu compromisso aqui é ajudar você a explorar os caminhos possíveis para realizar o sonho de formar uma família, sempre respeitando suas escolhas, seus limites e a do seu parceiro ou parceira. Quero que você se sinta à vontade e seguro para manter este diálogo aberto. A partir de agora, o seu objetivo passa a ser o meu também: construir um plano que permita a você realizar esse sonho. Vamos juntos!

O Congelamento de Óvulos: uma Porta para o Futuro

Com o uso contínuo de testosterona, é comum que ocorra anovulação e amenorreia (parada das menstruações). Pesquisas mostram que mais de 90% dos homens trans que utilizam testosterona deixam de menstruar em até 6 meses.

No entanto, estudos indicam que é possível homens trans interromperem temporariamente o uso de testosterona para engravidar e dar à luz bebês saudáveis. Em uma pesquisa com homens trans grávidos, 80% relataram que voltaram a menstruar em até 6 meses após suspender o tratamento hormonal.

Mesmo assim, sabemos que a relação entre a testosterona e a fertilidade ainda não é completamente compreendida. Estudos preliminares indicam que a função ovariana pode ser preservada após um ano de terapia hormonal, embora os níveis do hormônio antimulleriano (indicador da reserva ovariana) possam cair. No entanto, os efeitos a longo prazo — após 5, 10 ou mais anos de uso contínuo de testosterona — ainda são incertos, assim como o impacto na qualidade dos óvulos.

Por isso, se formar uma família biológica faz parte dos seus planos para o futuro, o congelamento de óvulos é uma alternativa a ser considerada idealmente antes de iniciar a terapia hormonal com testosterona ou realizar a cirurgia de redesignação sexual. Caso você não tenha congelado e agora queira fazer o procedimento, ele pode ser possivelmente pode ser feito, mas considerações devem ser colocadas para você.

É importante entender que congelar óvulos não significa que você necessariamente terá que gestar um bebê no futuro — e talvez essa ideia nem faça sentido para você agora. O mais relevante é que, ao preservar sua fertilidade, você cria opções. Seja por meio da doação de óvulos, gestação própria ou utilizando um útero solidário, o congelamento oferece a liberdade de escolha quando o momento certo chegar.

Pense nisso como um investimento na sua autonomia e no seu futuro. Estamos aqui para ajudar você a explorar as melhores opções, no seu ritmo e de forma respeitosa.

Congelamento de óvulos antes e depois da terapia hormonal

“O homem trans deve contar com amplo apoio do profissional de reprodução humana assistida durante o processo de congelamento de óvulos. Os efeitos colaterais tipicamente leves do congelamento de óvulos em mulheres cisgênero – sensibilidade nas mamas, inchaço e sensação de aumento dos ovários – podem ser especialmente desconfortáveis ou emocionalmente dolorosos para uma pessoa que sofre de disforia de gênero”.

Congelamento de Óvulos para Homens Trans

Embora o processo de congelamento de óvulos para homens trans seja tecnicamente semelhante ao realizado para outros pacientes, há considerações importantes que merecem atenção especial.

O tratamento começa entre o segundo e o quarto dia do ciclo menstrual e dura de 8 a 12 dias. Durante esse período, você precisará administrar hormônios para estimular os ovários, permitindo que produzam vários óvulos. Depois que eles amadurecem, o especialista em reprodução assistida realiza a coleta em um procedimento ambulatorial. Esses óvulos são então criopreservados em laboratório e podem ser armazenados por tempo indeterminado.

Vou detalhar como esse processo ocorre a seguir:

A primeira etapa é a estimulação ovariana, que geralmente começa nos primeiros dias após o início do fluxo menstrual. Nesta fase, você utilizará medicamentos hormonais para estimular os ovários a desenvolverem múltiplos folículos. Isso é diferente do ciclo natural, no qual apenas um folículo cresce e ovula.

Os hormônios utilizados serão aplicados de forma subcutânea, com uma agulha muito fina (similar às utilizadas para insulina), diretamente na região abdominal. Essas aplicações podem ser feitas por você mesmo, no conforto da sua casa, após receber as orientações adequadas na clínica.

O protocolo hormonal será cuidadosamente personalizado para atender às suas necessidades, mas, em geral, envolve três tipos de medicações:

  1. Estímulo ao crescimento dos folículos;
  2. Bloqueio da ovulação precoce;
  3. Maturação final dos óvulos.

Durante esse período, acompanharemos o desenvolvimento dos folículos por meio de ultrassonografias transvaginais (cerca de 2 a 3 exames) e, quando eles atingirem o tamanho ideal, será administrado o medicamento final para a maturação dos óvulos.

Após a estimulação ovariana, passamos para a aspiração folicular, que é o momento de coleta dos óvulos. Esse procedimento é realizado em um centro cirúrgico, com sedação ou anestesia geral leve, para garantir seu conforto.

Durante o procedimento, um ultrassom transvaginal é usado para guiar uma agulha fina até os ovários. Por meio dessa agulha, os folículos são aspirados um a um, e o líquido coletado é imediatamente analisado pelo embriologista, que conta e avalia os óvulos recuperados.

O procedimento é rápido e dura, em média, 20 minutos. Após a recuperação, você poderá voltar para casa no mesmo dia.

Após a coleta, os óvulos são cuidadosamente preparados para o congelamento por meio da técnica de vitrificação, que preserva sua qualidade de forma eficaz. Eles são armazenados em palhetas e mantidos em tanques de nitrogênio líquido, onde podem permanecer por anos, até que você decida usá-los para formar sua família.

Esse processo completo, do início da estimulação até o congelamento dos óvulos, leva cerca de 12 a 14 dias — um ciclo relativamente curto, mas com grande impacto em sua liberdade e autonomia para o futuro.

Opções para Formar a sua Família

O congelamento de óvulos oferece aos homens trans uma oportunidade única de preservar a fertilidade e expandir as possibilidades de formar uma família no futuro. Essa técnica protege os óvulos criopreservados de possíveis danos causados pela terapia hormonal de afirmação de gênero, permitindo que você mantenha o controle sobre suas escolhas reprodutivas.

Veja algumas das opções disponíveis:

Homens trans podem optar por gerar um bebê utilizando seus próprios óvulos por meio da fertilização in vitro (FIV). É importante lembrar que a testosterona pode ser prejudicial ao feto em desenvolvimento, por isso é necessário suspender a terapia hormonal antes e durante a gravidez

Para homens trans que não desejam engravidar ou que passaram por uma histerectomia como parte do processo de transição, os óvulos congelados podem ser utilizados para gerar um filho com sua carga genética, com o apoio de um útero de substituição

Se o homem trans tem uma parceira com útero, o casal pode recorrer à gestação compartilhada. Nesse caso, o óvulo congelado é fertilizado com espermatozoides de um doador e transferido para o útero da parceira.

Cada escolha reflete o desejo de construir uma família única, respeitando sua identidade e o que é mais confortável para você.

Dúvidas sobre Reprodução Assistida para Homens Trans

1. Quais são as regras que regem o emprego da barriga solidária no Brasil?

No Brasil, as diretrizes sobre gestação de substituição, também conhecida como barriga solidária, estão descritas na Resolução Nº 2.320 de 20 de setembro de 2022, do Conselho Federal de Medicina (CFM). As principais regras são:

  • A cedente temporária do útero deve:
    • Ter pelo menos um filho vivo;
    • Pertencer à família de um dos parceiros, com parentesco consanguíneo até o quarto grau (pais, avós, irmãos, tios, sobrinhos ou primos);
    • Caso não haja esse parentesco, é necessária autorização do Conselho Regional de Medicina (CRM).

Além disso, as clínicas de reprodução assistida devem manter os seguintes documentos no prontuário:

  • Termo de consentimento livre e esclarecido, assinado pelos envolvidos, detalhando os aspectos legais, sociais e médicos do processo;
  • Relatório médico que ateste a saúde física e mental de todas as partes;
  • Termo de compromisso entre o(s) paciente(s) e a cedente temporária do útero, esclarecendo a questão da filiação;
  • Compromisso com o acompanhamento médico e multidisciplinar da cedente temporária, até o puerpério;
  • Compromisso com o registro civil da criança, providenciado durante a gestação;
  • Aprovação por escrito do cônjuge ou companheiro(a) da cedente temporária, se ela for casada ou viver em união estável.

2. Qualquer pessoa LGBTQIAPN+ pode formar uma família?

Sim, todas as pessoas LGBTQIAPN+ que desejam formar uma família podem buscar apoio e opções em reprodução assistida. Ao conversar abertamente sobre essas alternativas, ajudamos a desmistificar tabus e a encorajar a busca por apoio sem medo de julgamentos. Cada indivíduo tem o direito de realizar o sonho de construir uma família. Nosso papel como especialistas é fornecer as informações e suporte necessários para que isso aconteça de forma segura e respeitosa.

3. O Conselho Federal de Medicina (CFM) autoriza tratamentos de reprodução assistida para pessoas LGBTQIAPN+?

Sim. Desde que a união homoafetiva foi reconhecida como entidade familiar pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011, o Conselho Federal de Medicina ampliou o acesso às técnicas de reprodução assistida. Essas técnicas não se limitam a casos de infertilidade e estão disponíveis para casais homoafetivos e pessoas solteiras que desejam engravidar, respeitando a diversidade de configurações familiares.

4. Um casal trans pode registrar seu bebê?

Sim. Para registrar e emitir a certidão de nascimento de um bebê, é necessário apresentar:

  • Declaração de Nascido Vivo (DNV), emitida pelo hospital;
  • Declaração da clínica onde foi realizada a reprodução assistida;
  • Certidão de casamento ou escritura de união estável do casal.

Desde 2016, o registro de crianças concebidas por reprodução assistida foi regulamentado pela Corregedoria Nacional de Justiça, por meio do Provimento 52. Em 2017, o Provimento 63 trouxe ainda mais segurança jurídica, permitindo que o registro seja feito diretamente no cartório, sem necessidade de intervenção judicial. Nos casos de gestação por útero de substituição, o nome da parturiente não consta no registro, mas é necessário apresentar o termo de compromisso firmado por ela.

5. Um casal formado por homem trans e mulher cis pode gerar um bebê?

Sim. O tratamento de reprodução assistida é avaliado individualmente, considerando as possibilidades biológicas e os desejos do casal, sempre respeitando a vivência de cada pessoa. No caso de casais compostos por homem trans e mulher cis, o processo é similar ao de casais cisgêneros homoafetivos femininos, com decisões sobre de quem serão os óvulos e quem irá engravidar. Há também a opção de gestação compartilhada, permitindo que o casal participe ativamente do processo de formar uma família.

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Como eu posso te ajudar?

A transição de gênero traz muitos desafios, e pensar no futuro, na formação de uma família, é um cuidado importante. O congelamento de óvulos pode ser a solução ideal para preservar suas opções reprodutivas, permitindo que você construa sua família no momento certo, seja você solteiro ou casado. Agende uma consulta e descubra o que é melhor para você!

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