Fertilidade da mulher diminui com a idade
Um dos conceitos mais importantes para entender a fertilidade da mulher é o da reserva ovariana. Nós mulheres já nascemos com todos os óvulos que vamos ter ao longo da vida. Um estoque que só vai se esgotando.
Todas as mulheres devem ter esse conhecimento e no momento correto, que seria no início da vida reprodutiva e não lá na frente, quando é necessário procurar um especialista em reprodução humana por dificuldades de engravidar. O planejamento reprodutivo deve ser encarado como essencial na vida da mulher.
A mulher atinge o pico do número de óvulos ainda na vida intraútero, dentro da barriga da mãe, perto da vigésima semana de gestação e, como eu disse, esse número só diminui a partir daí.
A mulher nasce com cerca de 1 a 2 milhões de óvulos, e esses óvulos vão sendo continuamente recrutados. Esse recrutamento é um processo longo, de cerca de 6 meses ou mais, e a todo momento, agora, por exemplo, estamos recrutando folículos. Durante esse processo de desenvolvimento, vários já vão entrando em atresia, ou seja, degeneração, e o óvulo entra em apoptose, morte celular. Ao final do processo de recrutamento, sobra um pool de folículos para aquele mês, os folículos antrais, e são esses folículos inclusive que enxergamos ao ultrassom como umas bolinhas pretas pequenas nos ovários.
Quando a mulher começa a menstruar é o momento em que ela começa a apresentar ovulação. Isso significa que desse pool de folículos que sobrou daqueles que foram recrutados lá atrás, um vai ovular, mas todos os outros folículos daquele pool ainda entrarão em atresia e os óvulos irão se degenerar.
Se a mulher está usando pílula anticoncepcional, se está grávida, não importa, esse recrutamento e a atresia, morte celular, vão acontecer de qualquer forma, e a todo momento.
Na idade da menarca, a primeira menstruação da mulher, essa reserva de 1 a 2 milhões ao nascimento já caiu para quase 400 mil, ou seja, mais da metade desse estoque já se foi sem nem mesmo a mulher ter tido a oportunidade de engravidar.
Esse estoque vai sendo recrutado, vai sendo gasto, e aos 30 anos, resta apenas 12% dessa reserva, aos 35 anos, 5% e, aos 40 anos, apenas 3% restou. Quando a mulher chega na menopausa, em geral ao redor dos 50-51 anos, sobraram apenas cerca de 1000 óvulos nos seus ovários e eles não são mais recrutáveis.
Esse são números gerais, mas obviamente existe variação. A idade da menopausa vai variar de acordo com o número de folículos com os quais a mulher nasceu, que nos trabalhos mostrou apresentar grande variação, de cerca de 50 mil a 2,5 milhões de folículos, e a velocidade de gasto, de recrutamento desses folículos. Fatores genéticos e ambientais estão envolvidos na determinação do padrão da reserva e da idade da menopausa.
Falei até agora sobre a redução quantitativa da reserva ovariana, mas tem também o aspecto qualitativo dessa reserva, que é super importante. A qualidade dos óvulos piora à medida que a mulher envelhece.
Sim, os óvulos envelhecem junto com a mulher, e esse processo se intensifica muito após os 35 anos. Uma mulher de 42 anos, por exemplo, pode ser uma felizarda e ter uma boa quantidade de folículos nos seus ovários, mas esses óvulos serão de baixa qualidade. E o que significa ser de baixa qualidade?
Significa que possuem baixa capacidade de gerar bons embriões, embriões viáveis, o que vai dificultar atingir gravidez e vai aumentar o risco de abortamento. Sim, o abortamento aumenta com a idade. Só para você ter uma ideia, a chance de uma mulher de menos de 35 anos engravidar é de cerca de 25% por mês. Aos 40 anos, essa chance cai para 5% ao mês. Quanto ao abortamento, mulheres abaixo de 35 anos têm menos de 20% de chance de abortar. Aos 40 anos, esse número sobre para 40% e aos 45 anos, para 80%.