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Prever a infertilidade é possível?

Prever a infertilidade é possível?

Prever a infertilidade é possível? Seria bom se tivéssemos uma forma de saber se teremos dificuldade para engravidar no futuro. Um exame, uma ferramenta que nos ajudasse a identificar aquelas pessoas que precisariam de algum aconselhamento. Infelizmente, não existe uma bola de cristal, nem esse exame ou essa ferramenta. Mas existem alguns sinais que podem nos mostrar que algumas pessoas estão em maior risco de apresentar dificuldades para engravidar no futuro, devemos ficar atentos a eles. 

Ciclos irregulares  

Os ciclos irregulares são um desses sinais. Outro sinal que pode indicar uma possível dificuldade para engravidar no futuro é a cólica intensa. Pacientes com suspeita ou diagnóstico já estabelecido de doenças nas tubas, nas trompas, também estão em grande risco. 

Paciente com diagnóstico de aderências na pelve, por cirurgias prévias, por endometriose, também estão em risco de terem a tubas comprometidas. Pacientes com históricos de repetidas infecções de MIPA ou DIPA também têm maior chance de acometimento das tubas. 

É importante também ter conhecimento do que acontece com a fertilidade ao longo dos anos, do impacto da idade nas chances de gravidez. Pouco se fala sobre o planejamento reprodutivo, mas nos dias de hoje, ele ganha especial destaque. 

Ciclos irregulares são aqueles curtos demais (menos de 21 dias de intervalo), longos demais (mais de 45 dias de intervalo, grande variação de dias de um ciclo para outro, ou mesmo aquela paciente que diz menstruar a cada 2-3 meses). 

Os ciclos podem estar inclusive ausentes. Esses ciclos irregulares indicam que muito provavelmente a mulher não está ovulando. A principal causa disso é a síndrome dos ovários policísticos, mas há outras causas também como hiperprolactinemia, distúrbios da tireoide, obesidade, falência ovariana. Enfim, esse quadro precisa ser investigado e pode indicar uma possível dificuldade para engravidar no futuro, caso o quadro se mantenha.

Cólicas intensas

A cólica intensa, muitas vezes incapacitante, que demanda tomar medicamentos em todo ciclo, deve ser investigada, e uma das causas que preocupa é a endometriose. A endometriose é uma doença em que a camada que reveste internamente o útero, o endométrio, se instala em outros lugares da pelve, como ovários, ligamentos, bexiga, intestino. 

Quando infiltra a camada muscular do útero chamamos de endometriose. Tanto a endometriose quanto a adenomiose podem dificultar a gravidez. Até 30-50% das mulheres com endometriose podem ter dificuldade para engravidar. Se você já tiver o diagnóstico de endometriose, não se desespere. Converse com seu ginecologista sobre esse tema importante e faça seu planejamento reprodutivo. 

Pacientes com suspeita ou diagnóstico já estabelecido de doenças nas tubas, nas trompas, também estão em grande risco de terem dificuldade para engravidar no futuro. Pacientes que já tiveram uma gravidez ectópica, nas tubas, por exemplo, têm grande chance de ter a outra tuba também comprometida. 

Paciente com diagnóstico de aderências na pelve, por cirurgias prévias, por endometriose, também estão em risco de terem as tubas comprometidas. Pacientes com históricos de repetidas infecções de MIPA ou DIPA (doença inflamatória pélvica aguda), uma doença sexualmente transmissível que geralmente dá poucos sintomas, também têm maior chance de acometimento das tubas. Quanto maior o número de infecções, maior a chance da tuba ficar doente. 

Mulheres com doenças uterinas como grandes miomas, pólipos, septos uterinos, malformações uterinas, também podem ter dificuldade para engravidar lá na frente. A maior parte dos miomas não interfere na fertilidade, mas aqueles grandes intramurais ou aqueles que acometem a parte interno do útero podem impactar. 

Um outro fator para se atentar é a idade da menopausa da mãe. Mulheres cujas mães tiveram menopausa precoce, antes dos 40 anos, têm risco aumentado de terem também. Logo, devem investigar sua reserva ovariana antes. 

Homens com alguma alteração conhecida ou suspeita no espermograma ou nos testículos também têm maior risco de terem dificuldade de engravidar. Homens com varicocele, homens que já operaram os testículos, homens que já fizeram algum tratamento quimioterápico são alguns exemplos de pacientes com maior risco de infertilidade. 

Além disso, os hábitos de vida também podem influenciar na fertilidade, e pacientes com estilo de vida inadequado podem ser prejudicadas. Mulheres e homens obesos têm sua fertilidade comprometida pelo tabagismo. 

Baixa reserva ovariana 

Mulheres com baixa reserva ovariana também podem ter dificuldade para engravidar no futuro. Avaliamos a reserva ovariana principalmente pela contagem de folículos antrais e pelo hormônio antimuleriano. 

Caso você esteja com baixa reserva ovariana agora, pode ser que seus folículos se esgotem antes de você conseguir ter a oportunidade de engravidar. Vale a pena pensar sobre preservação de fertilidade. 

Queria só citar um equívoco muito comum que tenho notado no consultório. Muitas pacientes chegam no consultório após terem feito um exame da reserva ovariana, o hormônio antimulleriano, que revelou um valor baixo. Geralmente, caracterizamos como baixa reserva ovariana valores abaixo de 1 ng/ml. 

Essas pacientes costumam chegar desesperadas ao consultório, pois têm o conceito errado de que a baixa reserva não vai deixá-las engravidar já agora, no presente. Cuidado, contanto que você seja jovem, você pode engravidar facilmente com um antimulleriano baixo. 

São dois aspectos diferentes, quantidade e qualidade de óvulo. Se você está com uma baixa quantidade revelada pelo antimulleriano baixo, mas é jovem, abaixo de 35 anos, você muito provavelmente ainda terá qualidade do óvulo. 

Você só ovula um por mês, independente de quantos tiver no ovário, ou seja, a situação é a mesma todo mês para quem tem muitos ou poucos folículos no ovário. Logo, ovulando um bom, você pode engravidar. Mas, vale dizer que se você estiver com baixa reserva e não quiser engravidar agora, você deve considerar fortemente a preservação de fertilidade, o congelamento de óvulos, pois a sua reserva ovariana pode se esgotar antes do esperado e você terá dificuldade para engravidar lá na frente. 

“Prever a infertilidade”

O que é importante para essas pacientes com risco maior de ter dificuldade para engravidar no futuro é a realização do planejamento reprodutivo. É importante ter conhecimento do que acontece com a fertilidade ao longo dos anos, do impacto da idade nas chances de gravidez. Algumas doenças podem ser tratadas ou melhoradas pensando em gravidez no futuro, como as doenças da tireoide, os ovários policísticos, a endometriose. 

Outros riscos não são tratáveis, contornáveis, como uma doença tubária, por exemplo, mas se planejar para não deixar o tempo passar e não associar outro fator de infertilidade gravíssimo,  que é o fator idade, é essencial. Pouco se fala sobre o planejamento reprodutivo, mas nessas pacientes, ele ganha um valor ainda mais especial.

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